Portfólio Agrofloresta: sustentabilidade e desenvolvimento
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Portfólio Agrofloresta: sustentabilidade e desenvolvimento
Curso: Sociologia – Licenciatura
Semestre: 7° / 8°
A Produção Textual Interdisciplinar em grupo (PTG) terá como temática: “Agrofloresta:
sustentabilidade e desenvolvimento”.
A proposta desta temática consiste em desenvolver análises sobre os fenômenos
sociais a partir do diálogo entre as diferentes abordagens teóricas do semestre. Os conteúdos
trabalhados devem permitir a elaboração de uma análise que leve em conta os processos
históricos, sociais e culturais contribuíram com a formação de um modelo de produção industrial
nas sociedades europeias. Esses processos transformaram a vida nas cidades e o fenômeno da
urbanização chega no campo com a adoção cada vez mais corrente e constante de uma agricultura
em larga escala, pautada na monocultura e na produção de commodities.
No Brasil não é diferente, temos uma história que promoveu a produção e
reprodução de grandes latifúndios, com uma grande concentração de renda e transformação da
terra e do território em capital. Na contramão deste modo produtivo, existem diferentes modelos
de produção no campo, alternativos ao modelo hegemônico. Essas alternativas são inspiradas tanto
em práticas de povos nativos, com o aproveitamento do conhecimento tradicional na extração de
recursos naturais, quanto em novas experiências, com a mistura de técnicas tradicionais e
científicas.
As Agroflorestas são exemplares de alternativas que geram trabalho e renda no
campo, ao mesmo tempo que promovem a produção de alimentos em uma lógica sustentável, é o
que vamos estudar na nossa situação geradora de aprendizagem.
ORIENTAÇÕES DA PRODUÇÃO TEXTUAL
Para realizar a atividade de portfólio individual, é necessário desenvolver um texto de própria
autoria, utilizando-se do material disponibilizado. A estrutura do texto deve seguir as normas da
ABNT e as regras indicadas neste documento de orientação. Por meio da leitura e interpretação da
SGA e da situação-problema destacada, você, necessita elaborar uma produção textual com
respaldo metodológico nas disciplinas cursadas ao longo deste semestre. Procure a Biblioteca
Virtual e aprofunde seus conhecimentos do assunto. Lembre-se, não deixe de colocar as devidas
referências quando utilizar uma fonte bibliográfica.
Ótimos estudos!
SITUAÇÃO GERADORA DE APRENDIZAGEM (SGA)
Leia a matéria selecionada:
Muvuca que vira floresta
Implantação de tecnologia social supera diferenças e tem o potencial de curar feridas entre
proprietários rurais, ambientalistas e comunidades tradicionais
Por Tatiane Ribeiro
O Brasil assumiu, durante a Conferência do Clima (COP 21), em 2015, o desafio de restaurar 12
milhões de hectares até 2030. O compromisso foi estabelecido no chamado Acordo de Paris que
reuniu 195 países dispostos a tomar medidas para diminuir as consequências das mudanças
ambientais, como o aquecimento global. Mas quais tecnologias de plantio podem tornar o
cumprimento dessa meta possível?
Existem alguns caminhos a seguir e a Associação Rede de Semente do Xingu (ARSX) escolheu um: a
muvuca de sementes.
O nome pode soar estranho já que o termo ̈muvuca ̈ remete à confusão, mas por trás da técnica
de misturar sementes de várias espécies há muito cálculo e pesquisa. ̈Junto com o coletivo
Mutirão Agroflorestal imitamos os povos ancestrais da América Central que plantavam uma mistura
de sementes direto no chão ̈, conta Eduardo Malta, coordenador técnico de restauração florestal
do Instituto Socioambiental (ISA) e colaborador da ARSX.
A mistura de sementes agrícolas e florestais que compõe a muvuca segue a lógica da sucessão
florestal. Mistura de sementes nativas e de adubação verde com areia que forma um insumo
homogêneo propício para a formação da estrutura da floresta, a muvuca consegue colocar o dobro
ou até dez vezes mais árvores por hectare e com metade do custo do que seria um plantio com
mudas.
Para plantar e ter sucesso na restauração da área a longo prazo é preciso integrar espécies de ciclo
curto, médio e longo. A alta densidade de árvores jovens e adubos verdes que tem sido observada
nos estudos após a semeadura da muvuca cria um microclima úmido e protegido do sol e do vento
para as sementes que vão germinando. A proximidade favorece a interação entre microorganismos
presentes nas raízes das diferentes espécies e que complementam suas necessidades nutricionais,
contribuindo para a vida e fertilidade do solo.
̈A composição com espécies de longevidade diferentes é importante porque há plantas de três
meses, outras de seis, árvores que vivem dez, 30 e 100 anos e não pode ter um buraco nesse
período”, explica Malta. Só assim, conta, espécies daquele bioma conseguem chegar na área que
está sendo restaurada e a biodiversidade pode voltar a ser próxima a original.
Troca de saberes
PRODUÇÃO TEXTUAL
INTERDISCIPLINAR
EM GRUPO – PTG
Para Malta, a principal inovação da muvuca é ser produto de uma cadeia produtiva de restauração
ambiental que envolve diferentes atores: povos indígenas, produtores rurais, agricultores familiares
e urbanos. Com a muvuca, os saberes dos indígenas e agricultores para produção junta-se a com a
capacidade do produtor rural de plantá-las em diferentes sistemas. ̈Utilizamos técnicas de plantio
dominadas pelos produtores da agricultura familiar e agroindustrial, como o plantio manual e o
mecanizado com plantadeira ou calcareadeira ̈, diz.
Os coletores também são importantes agentes de inovações das técnicas de produção. Com a
prática são eles que apresentam formas mais eficientes e mais baratas usando ferramentas simples
ou adaptadas de seu cotidiano. Cleusa Nunes de Paula, coletora do Projeto de Assentamento (PA)
Macife, em Bom Jesus do Araguaia, conta que usa o martelo para fazer o beneficiamento da
semente de sucupira: “Vem em casa e quando vejo que dá certo compartilho com os outros
coletores”.
A observação também confere conhecimento empírico aos coletores e aumenta a eficiência da
semeadura. Ao plantar as sementes nos terrenos das suas casas eles percebem como as sementes
germinam melhor, em qual ambiente nascem mais, em que ocasião demoram mais, entre outras
informações. ̈Planto casadão (5groflorestal) há 16 anos no meu lote, no começo erramos muitos,
mas agora já sabemos como manejar para ter a melhor árvore e utilizá-la como matriz ̈, conta João
Carlos Ferreira dos Santos, coletor e morador do PA Dom Pedro, em São Félix do Araguaia.
Os coletores indígenas também implantam a muvuca no entorno das aldeias adaptando a técnica
conforme aspectos culturais que interagem com o perfil das áreas em questão, considerando as
demandas de uso do território caso a caso . Entre as dez aldeias do Território Indígena do Xingu
(TIX) que trabalham na ARSX, quatro já fizeram plantios de muvuca: a Piyulaga, do povo Wauja,
Moygu e Arayo, do povo Ikpeng e a Samaúma, dos Kawaiwete. ̈Fizemos o último plantio no ano
passado em uma área que queríamos restaurar perto das casas e agora as plantas já estão grandes
e vamos plantar mais porque o que a gente quer é fazer floresta mesmo ̈, afirma Arikuta Wauja,
articulador da ARSX no TIX.
PRODUÇÃO TEXTUAL
INTERDISCIPLINAR
EM GRUPO – PTG
Natureza e mercado
Além da diversidade de sementes a muvuca permite uma diversidade de aplicações. Em sistemas
produtivos pode ser usada tanto numa horta agroflorestal, como para diversificar um milharal com
feijão e árvores. Também pode formar sombra e madeira nos pastos, melhorar a cobertura do solo
em entressafras de plantações como soja e feijão ou mesmo em roça de mandioca cuidando para
ter espécies que colaborem com a produtividade. Para a restauração de Áreas de Preservação
Permanente (APPs) e Reserva Legais (RLs), geralmente a combinação inclui adubação verde e
espécies nativas.
̈O pulo do gato da muvuca é que com uma operação só é possível implantar várias espécies.
Nossas pesquisas apontam que o custo pode chegar a ser até três vezes menor do que o plantio
realizado com mudas ̈, conta Guilherme Pompiano, técnico em restauração florestal do ISA e
colaborador da ARSX. Algumas espécies continuarão sendo plantadas como mudas, devido a
características das suas sementes que não permitem secagem ou armazenamento. Portanto, as
duas técnicas – semeadura direta e mudas – podem ser usadas ao mesmo tempo.
A composição do mix de sementes varia de acordo com o bioma onde será implantado e com os
objetivos de quem planta. Por isso também o preço da muvuca muda conforme a combinação de
espécies escolhidas para arranjos de plantio e locais específicos. As sementes têm a precificação
reajustada a cada ano acompanhando a disponibilidade na natureza e a demanda do mercado. ̈O
valor de coletar uma semente específica varia de núcleo para núcleo coletor por questões logísticas
e naturais e é preciso cobrir o custo mínimo que o coletor tem para fazer esse trabalho ̈, explica
Eduardo.
Outra vantagem técnica de utilização da muvuca é que as árvores plantadas têm o sistema radicular
mais bem desenvolvido que as mudas, as raízes são mais profundas e conseguem sobreviver
melhor à seca e a eventos extremos de mudanças ambientais.
A ARSX passou a vender as sementes em modalidade ̈muvuca ̈ a partir de 2017 com a
regulamentação da Instrução Normativa no 17, de 26 de abril de 2017, estabelecida no Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) que permite a venda de mix de sementes. Entre
os principais clientes da Rede está o ISA, a Agropecuária Fazenda Brasil (AFB), a Borges Prudente e
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EcoBrasil, empresas que fazem restauração de matas nativas ao redor de reservatórios em Goiás,
entre outras.
̈Mais de 5 mil hectares já estão em processo de restauração via aplicação de muvuca.
Recentemente começamos a implantar nas áreas de restauração da empresa AES Eletropaulo, no
Estado de São Paulo, e queremos expandir para outras regiões do país ̈, aponta Eduardo.
Johannes van de Vem, diretor geral da Good Energies, organização não-governamental que
trabalha com a mitigação dos danos causados pelas mudanças climáticas, acredita no potencial da
muvuca de reunir proprietários rurais e comunidades tradicionais e de contribuir na implementação
do Código Florestal. ̈A restauração tem o poder de reconciliar pessoas e superar divisões
desnecessárias. Nessa hora de tantas polêmicas, a muvuca pode curar feridas. Essa é uma
oportunidade dessa tecnologia ocupar um espaço maior, chegar à outras áreas brasileiras e até
outros continentes. ̈
Disponível em: Muvuca que vira floresta | Rede de Sementes do Xingu acesso em 29 jun 2022.
SITUAÇÃO-PROBLEMA (SP):
A muvuca de sementes é um exemplo interessante de promoção de trabalho e
renda, dentro de um modelo alternativo de desenvolvimento que produz levando em conta a
necessidade de sustentabilidade ambiental e social. Apesar disso, sabemos que o agronegócio,
pautado nos interesses econômicos em detrimento da sustentabilidade social e ambiental, tem se
colocado como hegemônico e avançado com a desmatamento de áreas nativas.
As disciplinas do semestre contribuem para a análise desse contexto de disputa de
modelos de produção e desenvolvimento, sendo assim, produza seu texto levando em conta as
seguintes questões norteadoras:
É possível dizer que a “muvuca” em consonância com a noção de desenvolvimento
sustentável? Descreva o conceito de desenvolvimento sustentável e aponte de que modo
podemos associar a “muvuca” com as críticas do ambientalismo à sociedade capitalista.
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A disposição neoliberal em romper com os processos civilizatórios, voltados à promoção da
dignidade humana, é cada vez maior; reinventar estratégias para a manutenção e
potencialização de suas metas de lucro, desconsidera – entre outras questões – a existência
de toda diversidade e pluralismos que compõem a vida em sociedade. Posto este
argumento, faz-se necessário encontrar caminhos tangenciais que minimizem os impactos
gerados por este modelo político e econômico neoliberal estéril. No que tange à proposta
da PTI, ao problematizar a prática da chamada muvuca de sementes e os seus impactos
positivos, poderíamos afirmar que essa iniciativa é um caminho importante para tangenciar
a agressão do agronegócio no bojo do neoliberalismo?
Você identificou que, o envolvimento de diferentes sujeitos sociais torna o projeto mais
potente, inclusive a presença dos povos originários indígenas diz sobre essa relevância. Um
dado significativo consiste no modo como, as comunidades indígenas adaptaram a técnica
da muvuca de sementes aos aspectos culturais de cada território. Considerando estes
apontamentos desenvolva a reflexão sobre o conceito de cultura e identidade étnica, uma
vez que há um cuidado em desenvolver a técnica (muvuca de sementes) respeitando as
especificidades culturais de cada território.
Os estudos da Sociologia permitem compreender que o que se passa no campo e o que se
passa na cidade não formam um par de oposição, mas que um impacta diretamente no
outro, isto é, há muito mais relações e interconexões do que propriamente oposição.
Comente de que forma a “muvuca” revela estas continuidades.
As práticas ambientais sustentáveis, hoje, para uma boa gestão, têm dado oportunidade
para o desenvolvimento de novas tecnologias tanto na produção quanto em favor da
prevenção de impactos ao meio ambiente e a conservação dele. De que forma o projeto
Muvuca contribui para o desenvolvimento de tecnologias para a gestão ambiental?
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Bibliografia Recomendada:
MEDEIROS, Rosangela Ap. “CAMPO E CIDADE, RURAL E URBANO NO BRASIL CONTEMPORANEO”.
In: Mercator – Revista de Geografia da UFC, 12(2), 103-112. 2013. Disponível em:
https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=273628672008 . Acesso: 29 jun 2022.
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Como o conhecimento indígena
pode ajudar a prevenir crises ambientais. Disponível em: https://www.unep.org/pt-br/noticias-e-
reportagens/reportagem/como-o-conhecimento-indigena-pode-ajudar-prevenir-crises Acesso 29
jun 2022.
DUMÉNIL, Gérard; LÉVY, Dominique. Neoliberalismo: neo-imperialismo. Economia e Sociedade,
Volume: 16, Número: 1, 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ecos/i/2007.v16n1/ Acesso
em 20 jun 2022.
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